quarta-feira, 4 de fevereiro de 2009

CIDADES E EDIFÍCIOS COMO REPRESENTAÇÃO DE ORDENS SOCIAIS E SISTEMAS IDEOLÓGICOS

Quando refletimos sobre “cidades e edifícios como representação de ordens sociais e sistemas ideológicos”, somos levados a uma série de questionamentos que, começam a ter respostas se primeiro compreendermos cada parte desta temática.



1. CIDADE
Nome dado à povoação que é a sede do município.

Sobre o surgimento da cidade, Mumford, citado por Bernardi (1) assegura que “antes da cidade, houve a pequena povoação, o santuário e a aldeia; antes da aldeia, o acampamento, o esconderijo, a caverna, o montão de pedras; e antes de tudo isso, houve certa disposição para a vida social que o homem compartilha, evidentemente, com diversas outras espécies animais”.

A cidade inicia no homem, na sua relação social.


2. EDIFÍCIO
Construção que serve de abrigo, moradia, etc.; casa, edifício, prédio.

A edificação expressa uma informação pelo tipo de uso que é dado para ela, pelo seu formato e até por suas cores.

De Botton alega que “quando as construções nos falam algo, elas também o fazem usando citações – isto é, despertando lembranças e fazendo referências aos contextos os quais vimos anteriormente seus equivalentes ou modelos. Elas comunicam por meio de associações (...).” (2)


3. REPRESENTAÇÃO
Ato de representar. Coisa que representa. Reprodução do que se tem na idéia.


4. ORDENS SOCIAIS
Conjunto de princípios que satisfazem à mútua dependência dos seres sociais. Trata a questão da hierarquia, dos valores, de mando e comando.


5. SISTEMAS IDEOLÓGICOS
Sistemas de idéias, convicções políticas.


Desta forma, a fim de facilitar o entendimento, poderíamos parafrasear o tema com a seguinte frase: “Os povoados e as construções como reprodução da hierarquia das convicções políticas”.

A obra de arquitetura, desde uma simples edificação até grandes complexos e cidades inteiras representa uma expressão da ação do homem, inventando formas e símbolos que passarão de geração a geração.

A produção arquitetônica nunca parou, desde a pré-história que os homens são acompanhados pelas construções, pela necessidade de habitar, de se proteger. Mas o que se percebe é que ao longo da história, a sociedade humana experimenta uma diferenciação entre os grupos dominantes e as camadas subalternas. Os grupos dominantes sempre habitaram em edificações expressivas, como é o caso dos castelos, palácios e mansões. Já as camadas subalternas, tiveram por sorte habitar em choupanas, casebres, palhoças e edifícios populares.

A arquitetura expressa as estruturas sócio-econômicas e de poder. Enquanto que os grupos dominantes decidem quais as áreas de maior valor, as camadas pobres se acomodam ocupando áreas periféricas.

O arquiteto geralmente é visto como um profissional relacionado à produção monumental, espetacular e de poder, voltada para a elite. Desta forma, a arquitetura sempre esteve relacionada ao poder, como uma expressão de poder.

A chamada agora é para que possamos enveredar por uma seara onde a nossa produção, seja uma expressão de sistemas ideológicos, cujos princípios sejam o acesso facilitado a uma moradia digna, a qualidade de vida, a acessibilidade para todos, e ainda, que se garanta a sustentabilidade para a nossa geração e para as que virão.



Ana Cunha Araújo


(1)– BERNARDI, 2007, p. 37.
(2)- DE BOTTON, 2007, p. 93 e 97.


Saiba mais:


REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BERNARDI, J. L. A organização municipal e a política urbana – Curitiba: Ibpex, 2007. 424 p.

DE BOTTON, A. A arquitetura da felicidade – Rio de Janeiro: Rocco, 2007. 271 p.

MENEZES, E. D. B. de. ARQUITETURA: Expressão Simbólica do Poder? - Série Estudos e Pesquisas, 11 – Fortaleza: Núcleo de Estudos e Pesquisas Sociais – UFC, 1988. 27 p.

ROCHA, R.; PIRES, H. da S. Minidicionário enciclopédico escolar Ruth Rocha/Hindenburg da Silva Pires – São Paulo: Scipione, 2000. 668 p.

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